Crise é algo corriqueiro na vida de qualquer pessoa. Orar nem sempre será normal. Temos crises familiares, financeiras, físicas, emocionais e existenciais.
A definição do Aurélio para crise é: “momento perigoso, período de desordem acompanhado de busca penosa de uma solução ou um momento crítico ou decisivo”.
Crise é algo que temos dificuldades para aceitar. Orar é sempre um privilégio a viver. Crise é algo a fugir. Orar é sempre o modo para nos encontrarmos com o Senhor das crises. Crise é estressante. Orar é um calmante para enxergar novas oportunidades de vitórias possíveis pelo amor divino.
Davi, um amado líder de Israel, enfrentou crises desde a sua juventude, ainda quando trabalhava para o seu pai. Foi ungido por Deus para grandes desafios e viveu muitas crises interiores e familiares. Teve muitos inimigos, mesmo sendo o homem segundo o coração de Deus. É incrível que, em toda a sua caminhada pessoal e política, encontrou tempo para estar com Deus e ainda escrever muitos poemas e hinos. Os seus salmos foram os relatos da história divina na sua história pessoal. Esse homem chamado por Deus fez história na sua geração (Atos 13.22 e 36) e é lembrado por séculos pela sua relação com Deus. Ele viveu sob crises constantes. Não será diferente conosco.
O salmo 86 nos encoraja a orarmos ao Deus Santo, observando a experiência pessoal de Davi. Ele, provavelmente, estava vivendo uma crise política e familiar ao mesmo tempo. Essa é a oração de alguém íntimo do Senhor, aprendendo a falar de coração para o coração do Pai. Ele sabe quem é o Senhor dos Exércitos, mas também o Deus da Graça.
Esse salmo nos ensina alguns princípios marcantes para aplicarmos em tempos normais, mas, sobretudo, nos tempos de crises.
Em primeiro lugar, será fundamental sabermos com quem estamos conversando. A crise pode ser grande e assustadora, mas aquele a quem nos dirigimos é soberano e não há ninguém que seja Deus como Ele. A crise assusta, mas não ao Senhor. Na sua conversa, Davi reconhece o seu Deus como poderoso, libertador, gracioso e fiel às suas alianças.
Orar, para Davi, é usufruir da intimidade com uma pessoa que é Deus e, ao mesmo tempo, o Pai Nosso amoroso e cheio de terna misericórdia. Davi usou dessa liberdade para pedir ao Pai uma ação afetuosa da parte Dele, para tê-la como testemunho da sua graça. Não há orgulho pessoal por ser agraciado, mas é o reconhecimento do poder e favor divinos. O Pai não pode ser confundido como nosso servo, mas é aquele que sabe, graciosamente, nos dar lembranças, além do que já fez na cruz (Romanos 8.32). Ele sabe tudo o que precisamos, antes mesmo de falarmos a Ele. O Pai Celeste é alguém que sempre toma iniciativas em demonstrar o seu cuidado conosco, mesmo sabendo que não temos méritos e condições de retribuição. A aceitação da graça gera uma relação afetuosa e de gratidão entre pai e filho.
Em segundo lugar, Davi aprendeu que é uma pessoa necessitada do Senhor, pois as suas condições espirituais são insuficientes para vencer as crises. Ele pede forças para se alegrar e para ser inteiramente fiel ao Senhor, mesmo sabendo que foi fiel e corajoso diante de vários e temidos inimigos. Ele reconhece que as suas vitórias pessoais foram fruto do poder e da graça divinos. A primeira luta, para nós, será a conscientização da nossa insuficiência. Como enfrentar os nossos medos e todos os tipos de sentimentos que nos humilham?! Precisamos olhar para o trono da graça que já nos é oferecido.
Um terceiro aspecto da oração de Davi que nos ajuda a orarmos é o seu desejo de alinhar os seus pensamentos e ações sob a vontade soberana do seu Senhor. Ele deseja andar no caminho da verdade revelada na sua Palavra. O orgulho dos nossos planos precisam ser colocados sob o plano divino. O próprio Jesus, o Filho Unigênito, em tempos da sua maior crise, se submeteu à vontade do Pai. “Que não seja como eu quero, mas que a tua vontade seja feita”, mesmo que seja a dor, a rejeição, a humilhação e até a morte.
Jesus ensinou os seus discípulos a orarem quando viram nele um exemplo de intimidade, com conversas constantes com o Pai. Isso era diferente de tudo o que eles já tinham ouvido e visto. Orar é aprender a conversar com Deus. Quanto mais conversamos com o Pai, mais o conhecemos e queremos afinar a nossa vontade à dele.
Orar nas crises é tempo de aprender o significado de “aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”. É tempo de ouvir o Senhor dizer: “as ondas dão pavor, mas como Pai eu afirmo: sossegai…sim, só sossegai”.
Nós temos crises e não podemos ignorá-las, mas, principalmente, temos o Senhor, que está completamente acima delas. Hoje, pode ser um dia de esperança renovada.
Carlos Nogueira Martins
Associação Apascentar