ESCOLA BÍBLICA DE FÉRIAS – EBF

O surgimento da EBF – Escola Bíblica de Férias – data dos idos de julho de 1898, nos Estados Unidos. Preocupada com a vulnerabilidade das crianças, à mercê das ruas da cidade de Nova York, no período das férias, uma senhora chamada Elisa Hawes teve a ideia de reuni-las por seis semanas para atividades assemelhadas às de uma escola. A história registra que a área de bebericagem noturna de uma cervejaria foi o palco da primeira EBF de que se tem notícia, em julho de 1898, sob os auspícios da Igreja Batista de Epiphany. Interessante é notar que o momento litúrgico incluía um misto de escola e igreja, com etapas como saudação à Bandeira Nacional, entoação de hinos, ministração da Palavra, confecção de desenhos, memorização de versículos, atividade físicas na forma de dinâmicas, confecção de trabalhos manuais semiprofissionais (as meninas aprendiam corte e costura e culinária e os meninos, marcenaria). O sucesso da iniciativa da Sra. Hawes foi tal que, em 1901, o Secretário Executivo da Sociedade Batista de Missões Urbanas de Nova Iorque, Dr. Robert Bouville, passou a promover “EBFs” por todo o país, alcançando 10 escolas, em 1902. Em 1911, criou-se a Associação das Escolas Bíblicas de Férias, com a finalidade de gerar material padronizado, promover implantação de EBFs e consolidar a cultura da escola bíblica de férias. Sob influência do movimento americano, Dr. Reno, em julho de 1924, realizou a primeira EBF brasileira de que se tem notícia, no Colégio Américo Batista, em Vitória/ES. Desde então, a realização de EBFs faz parte da cultura cristã evangélica, particularmente no que diz respeito às igrejas tradicionais. Ao longo do tempo, se conservou, em maior ou menor grau, as características da EBF como momento cívico, ambiente litúrgico, espaço lúdico, caráter missionário-evangelístico e oportunidade de aprendizado para a vida.

Muitos de nós, com alguma raiz histórica evangélica, trazem, arraigados em nossas lembranças, as EBFs de que participaram. Em plena era do espetáculo midiático, sob os auspícios da comunicação imediata e da contínua revolução tecnológica, cabe uma pergunta reflexiva: as EBFs são apenas uma reminiscência histórica ou uma ferramenta eficaz para o alcance de crianças de hoje?

Há, pelo menos, quatro pontos que pensamos ser oportunos na consideração da resposta a essa pergunta. Em primeiro lugar, deve-se considerar o público-alvo das EBFs. Tradicionalmente, o público-alvo, sem olvidar as crianças da igreja local, é, essencialmente, o público não-evangélico. Assim, por sua natureza, a EBF tem seu olhar voltado para o extramuros, para o alcance de crianças da comunidade que habitualmente não frequentam a igreja. O desafio missionário de se alcançar crianças persiste nos dias atuais. A programação de uma EBF pode ser a única possibilidade de uma criança não participante do meio eclesiástico ser exposta a um ambiente litúrgico. Portanto, do ponto de vista do público-alvo, nos parece que a EBF ainda é eficaz na atualidade.

Em segundo lugar, as raízes históricas que ensejaram o surgimento das EBFs são uma condição problemática ainda hoje. A vacância de atividades escolares, ainda hoje, deixa crianças em lassidão. Este vácuo programático pode criar uma condição de vulnerabilidade, vez que os pais, empenhados em suas atividades, não garantem a guarda e diversão de seus filhos durante as férias. A persistência deste cenário na atualidade justifica a realização de EBF em nossos dias. Trata-se de uma aplicabilidade que compete com propostas outras menos virtuosas também disponíveis em tempos de férias.

Em terceiro lugar, a EBF é um ambiente lúdico e atraente, constituindo-se numa forma inteligente de expor a criança à Palavra de Deus. Da mesma forma que se apresentava atraente às crianças nova yorkinas, as EBFs de nossos dias atraem pela proposta visual e lúdica. Possivelmente, crianças alcançáveis numa EBF jamais adentrariam o templo de uma igreja evangélica, pela resistência de seus pais. Isto é verdade, particularmente, para EBFs realizadas em espaços não-eclesiásticos.

Finalmente, cumpre mencionar que a EBF não é um modo antiquado de evangelização infantil. Em consonância com a modernidade tecnológica, a EBF de nossos dias deve ser um espaço em que a criatividade, aliada a recursos tecnológicos, conceda um cenário atraente e pedagogicamente eficaz. Por exemplo, uma EBF com temática baseada na história de Jonas torna-se eficaz na medida em que se apresente como uma peça teatral em que um peixe se mova e seja capaz de deglutir o profeta fujão. Não se pode considerar, na atualidade, que esta história seja apresentada como uma performance de contador de história ou na forma de figurinhas afixadas em um flanelógrafo. A adoção de trilhas sonoras, o uso de vestimentas típicas, a utilização de recursos que caracterizem ambientes e a adaptação de ferramentas multimídia tornam uma EBF compatível com o que a criança vive exposta em nossos dias.

Portanto, a EBF é uma instituição que tem sobrevivido ao tempo e à evolução tecnológica. Trata-se de uma ferramenta eficaz na evangelização de crianças, na medida em que se volta a crianças sem opções de programas dada a chegada das férias escolares. A EBF é absolutamente atual na medida em que se apresenta como opção de exposição da criança e de sua família à mensagem do evangelho, criança esta que, muito provavelmente, não adentraria um templo evangélico. A adoção de criatividade e de recursos multimídia atualiza o ambiente das EBFs e atrai crianças e famílias. Assim, a iniciativa histórica da irmã Elisa Hawes ainda é uma ferramenta eficaz no alcance missionário de crianças e, por conseguinte, de suas famílias.

Posto assim, note-se que a EBF é uma escola Bíblica aplicável durante as férias escolares para atender crianças e adolescentes da vizinhança da comunidade eclesiástica. A EBF representa um aproveitamento sadio do tempo de férias em um ambiente festivo, colorido e alegre. Antes de ser este ambiente acolhedor, a EBF é oportunidade de proclamação do evangelho e momento oportuno para as crianças receberem a Jesus Cristo como Seu Salvador. Para as crianças da igreja, a EBF permite crescimento no conhecimento da Palavra de Deus e de seu amor. A resposta ao conhecimento do amor de Deus se dá na oportunidade de se envolver com a obra missionária, através da oração, contribuição ou mesmo chamado missionário. Para a igreja local, a EBF será fonte de novos alunos para o ministério infantil e, eventualmente, de adultos atraídos pela modificação de comportamento das crianças em casa.

Concluímos afirmando que a EBF é uma eficaz estratégia de evangelização de crianças, bem como um renovo para a equipe, com capacitação e novos envolvimentos. A realização da EBD desperta simpatia da comunidade pela igreja e treina os voluntários que atuam com crianças. Vista assim, podemos afirmar que, mesmo tendo lugar nas férias de julho, a EBF se estende por todo o ano.

Pr. Gilvano Amorim

Pastor do Ministério de Crianças Semente Ágape da Igreja Batista Ágape de Campinas. Graduado pela Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo. Vice-presidente da Associação Apascentar.