“Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24.14 e 15).
A família como instituição divina tem em Deus seu sustentáculo PERMANENTE (Salmos 127.1-128.1 ss). Nela, desde a concepção até o fim da jornada, estamos abrigados. Contudo, apesar de sua importância – e, nestes tempos de pandemia, se agigantou – a mesma tem sofrido ataques de toda natureza, inclusive, no campo formal, legal. Nenhuma novidade, em face da queda e das profecias que sinalizaram para o esfacelamento da família no fim dos tempos (cf. Mateus 24.37; I Timóteo 4.3). O nosso tema contrasta duas realidades quanto ao conceito de família sustentado ao longo dos séculos. Como uma entidade sólida, que tem origem nas Escrituras, portanto, na tradição judaico-cristã; e a realidade atual, rotulada de pós moderna, liquida, disforme. Desse modo, para fins pastorais, consideraremos, brevemente, os desafios da família cristã no contexto da pós-modernidade. Em termos históricos, grande parte dos estudiosos afirma que “a pós-modernidade começou em 1989, com a queda do muro de Berlim.” E, assim, com a derrubada do muro, ruiu também a ideologia que mantinha o muro de pé, ou seja, o mundo sólido.
Agora, os estudiosos das relações humanas afirmam que vivemos num mundo plural e inclusivista. Logo, não temos mais o modelo, mas, sim, “modelos” de famílias em contraposição ao modelo bíblico, nuclear. A família é a mais antiga instituição da Terra, pois tem sua origem em Deus, no Éden (Gênesis 1.1 – 2.1 ss). E, infelizmente, a família tem sido objeto de ataques do homem caído e do diabo, desde tempos imemoriais (Gênesis 3.1 – 1.1 ss). Atualmente, esses ataques estão cada vez mais intensos, pois o fim é destruir a família por Deus instituída. Nesse sentido, lembramos do apelo de Jesus: “Vigiai e orai”. Vigiemos e oremos por nossa vida, família e igrejas (Salmos 127.1; I Tessalonicenses 5.17), pois o inimigo ataca sem cessar. A igreja é, por certo, a única instituição a lutar pela família, nestes tempos pós-modernos. E que tempos tão difíceis para a vida em família! A pós-modernidade, de acordo com o Pr. Hernando D. Lopes, sustenta-se sobre o tripé: pluralização, privatização e secularismo. O mundo é plural e, por isso, não se crê mais numa verdade absoluta. A verdade é privativa e cada um tem a sua. O secularismo empurrou Deus para a lateral do caminho e, assim, Ele não interfere mais nos assuntos privativos – logo, nos assuntos da família. Nós, cristãos, cremos que Jesus é a Verdade absoluta. Que a Palavra de Deus é a verdade e somos governados por essa verdade absoluta, e não pelo relativismo do mundo.
Assim, esse tempo rotulado de pós-moderno ou da modernidade liquida – conceito formulado pelo sociólogo Zygmunt Bauman/1925-2017 –, foi precedido pela modernidade, iluminismo, humanismo e caracteriza-se, sobretudo, como uma ruptura radical com o padrão judaico-cristão familiar. A pós modernidade é uma nova maneira de viver, acelerada, sem vínculos e defesa dos valores éticos, morais e espirituais. Os valores mudaram, atingindo a família no modelo cristão. O perfil da família mudou drasticamente, e as consequências são uma explosão de divórcios e novas formas de “famílias”. Na verdade, as instituições estão ruindo, uma após outra, em todos os níveis. Por exemplo, os filhos querem namorar (viver como se fossem marido e mulher), em casa e em seus quartos, mas sem qualquer responsabilidade. E os pais, salvo raras exceções, permitem sem qualquer restrição, oferecendo, inclusive, preservativos. É também um tempo da erotização em todos os sentidos, atingindo, especialmente, as crianças, iniciadas, desde cedo, pela tv aberta. Além disso, a pós modernidade estimula o consumo exacerbado, a futilidade. O tênis, o relógio, o celular, a roupa de ontem não serve para amanhã. E pior, a esposa ou o marido de ontem não servem para amanhã. “Que o Senhor edifique nossos lares”.
Essas mudanças em curso afetam todas as camadas das relações humanas. Isso pode ser visto, principalmente, no Ocidente “quase” ou, realmente, pós cristão quanto aos princípios e valores norteadores da vida, da fé e da família na sociedade. As consequências estão em todo o mundo, pois a desagregação familiar atinge a todos, indistintamente. Percebe-se, claramente, essa ruptura radical e as distorções absurdas e destrutivas da sociedade. Uma das consequências visíveis são os milhões de filhos sem pais, sem rumo, perdidos. Outras, a ampliação explosiva do consumo das drogas e do suicídio entre adolescentes e jovens. Está profetizado: “os últimos dias serão difíceis e trabalhosos” (I Timóteo 4.1-5). Assim, as relações familiares entre marido e mulher, pais e filhos e irmãos, nos dias atuais, se contrapõem frontalmente a Deus e, por isso, estão ruindo. A pós modernidade tem uma visão distorcida de Deus, das Escrituras, da família e dos princípios e valores ordenados por Deus. E, desse modo, relativiza tudo, inclusive os absolutos em matéria de fé e prática, afetando a vida familiar em todos os seus aspectos. O mesmo pode ser dito em relação ao culto, a adoração, o louvor, as orações e tudo o mais que é sagrado. Logo, não há mais verdade, mas, “verdades”. A sociedade hodierna tem sido afetada, incisivamente, por essa cosmovisão, um território nebuloso e relativista. A agenda contemporânea e, naturalmente, antibiblica, anticristã.
Ame, ore, proteja, lute e defenda a sua família, pois ela é dádiva de Deus. “Escolhei a quem sirvais; eu, porém, e a minha casa serviremos ao Senhor!” (Josué 24.15 b). O desafio de se viver como cristão no mundo – moral e eticamente – se impõe a todos quantos professamos a Jesus individual e familiarmente. Segundo John Stott, “a igreja e a defesa dos valores bíblicos são contra culturais em todo e qualquer tempo” e, por isso mesmo, a igreja estará sempre na contramão da história e do mundo sem Deus. Ser cristão, viver e defender a família e seus valores num mundo materialista, consumista e anticristão é um imperativo eterno (Deuteronômio 6.4). É o nosso chamado mais radical, pois “somos a luz e o sal da terra”, também por vivermos em santidade e consagração a Deus em família. O nosso chamado individual e familiar é para vivermos de forma íntegra em todos os sentidos, num mundo em oposição a Deus, à sua palavra e à Igreja. Deus nos desafia a sermos os guardiões destes valores eternos vinculados à família, pois oriundos das Escrituras (Deuteronômio 6.1 – 10). Que possamos vivenciá-los, todos os dias, em família para que as novas gerações aprendam a amar, guardar, viver e transmitir aos seus filhos, no futuro, estes mesmos princípios e valores, nos termos em que Deus ordenou: “temendo e servindo a Deus com sinceridade e integridade, pois se o SENHOR não edificar a família, vão será todo o nosso viver” (Josué 24.14 e 15; Salmos 127.1). Amém.
Afetuosamente,
Pr. Antonio Sérgio de A. Costa e Maeli Silveira de L. Costa